Nossa História

Por Mário Rangel

Era virada do século XXI, ano de 2000. Eu estava no sexto semestre do curso de Geografia, e recebi um convite para participar de uma reunião no auditório da Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O objetivo era viabilizar um projeto nascido na cadeira de Organização da Educação Brasileira, formar um curso popular para a preparação de alunos de baixa renda para o Vestibular da UFRGS. A ideia partiu dos alunos, mas o Professor Carlos Machado, hoje Professor titular da Fundação Universidade do Rio Grande (FURG) foi o grande incentivador e organizador do projeto. Naquela primeira reunião havia gente de todos os cursos. Ouviram e opinaram sobre a criação do Pré-Vestibular Popular - na época ainda sem esse nome. A proposta pedagógica e os objetivos propostos passavam por Paulo Freire, o grande educador brasileiro que muito trabalhou a Educação Popular.

Num segundo momento, precisávamos divulgar o Projeto e de espaço para as aulas. Foi feito um contato com a Associação dos Moradores do Bairro Jardim Carvalho, na Zona Leste de Porto Alegre, que, através do seu jornal de bairro divulgou e intermediou junto a Escola Estadual Gema Angelina Belia a cessão de duas salas ociosas no turno da noite. Já na Sede da Associação, fizemos plantões para inscrições e, a partir daí, iniciaram-se as atividades do Pré-Vestibular Popular. No início tudo era improvisado. A matéria era distribuída em cópias heliográficas (xerox). Tínhamos poucos alunos, mas sobravam entusiasmo e vontade de acertar. Quando no primeiro ano, aprovamos dois alunos na UFRGS, foi uma festa. As reuniões mensais aconteciam onde dava, não tínhamos lugar fixo. Até em praças chegaram a acontecer. Na casa de professores e, também, na própria UFRGS. Na Universidade também conseguimos salas para os Pré-Provas e os auditórios da Reitoria e da FACED, onde fizemos algumas aulas inaugurais.

Foi numa dessas reuniões que se resolveu, por questões legais, formar uma Entidade Jurídica e, em 2002, foi fundada a Organização Não Governamental para a Educação Popular – ONGEP. Nesse mesmo ano, ampliamos nosso trabalho para mais uma escola, a Escola Estadual Florinda Tubino Sampaio, no Bairro Petrópolis. Ficamos nestas escolas até o final de 2005. Nesse ano, participamos de um protesto, junto com o Circulo de Pais e Mestres da Escola Gema Angelina Belia e da Associação dos Moradores do Bairro Jardim Carvalho contra a venda de parte do terreno da escola pelo Governo Estadual. Sob protesto, a Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Sul nos obrigou a desocupar as salas cedidas. Após mais um ato com professores e alunos frente à SEC que, depois de muita pressão nossa, nos permitiu terminar o ano. Mas tínhamos que achar outro lugar para continuar o Projeto. Em 2006, a ONGEP ousou e locamos uma sala na Rua dos Andradas, próximo a Casa de Cultura Mário Quintana, onde até hoje funciona o Projeto. Em 2009, fechamos uma parceria com a Eletrosul e com o Governo Federal, que nos proporcionou qualificar a ONG, melhorando sua infra-estrutura, proporcionando melhores condições para o ensino e a aprendizagem do aluno e do professor.

São mais de onze anos em atividade, onde pelo menos mil alunos passaram pelas nossas aulas e, muitos deles, aprovados na UFRGS. No Vestibular de 2011, foram aprovados 28 alunos em diversos cursos, 40% do total de alunos regulares. Em 2012, está marca manteve-se, com aprovações em cursos como medicina e psicologia. Também mais de duzentos professores fizeram do Pré-Vestibular Popular a sua primeira prática de ensino. Muitos dos professores que por aqui passaram hoje trabalham na rede estadual e municipal e, até mesmo, no Ensino Superior. Somos sabedores de que existem muitos outros desafios a enfrentar e que é disso que depende o nosso sucesso futuro. Incentivar o novo e formar novas lideranças que venham a qualificar o nosso trabalho é imperativo para a manutenção da proposta do Pré-Vestibular Popular.

A Educação Popular é uma ferramenta importante para incluir parcelas da sociedade que ainda se encontram excluídas do acesso a Universidade Pública. Quero, principalmente, incentivar a formação do cidadão e da cidadã conscientes de seus deveres e direitos na sociedade brasileira.

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